30/10/2012

Concertos e isso

Como vocês provavelmente sabem, eu sempre fui pessoa de ir a muitos concertos. Nada de muito underground nem é todas as semanas, certo, mas é facto que uma parte considerável das minhas economias vai parar ao Billetlugen e semelhantes.

Ora, não sei se é de ter ido a tantos concertos nos últimos anos (114 desde 1999, diz o meu last.fm. Ok, não é assim tanto, mas adiante), mas parece que não é a mesma coisa. São raras as vezes em que há aquele nervoso miudinho antes, a convicção com que bato as palmas para o encore é quase nula (eles voltam de qualquer maneira, qual é a urgência?), chegar mais cedo para ficar lá à frente? Não tenho 15 anos! Os Blur tocam num festival a 4 horas de distância e eu nunca os vi os 4 todos juntos (só sem o Graham, e não é a mesma coisa)? Nem pensar em tirar uma tarde e uma manhã num dia da semana, tenho um doutoramento para acabar! (Para compensar vi o Graham a solo um mês depois e foi absolutamente maravilhoso - não sou uma fã assim tão desnaturada... e parece que eles vão fazer uma digressão no ano que vem por isso nem tudo está perdido \o/)

Fui de muletas ao Super Bock Super Rock? Tens a certeza??

Ok, pronto, não quero admitir, mas se calhar é da idade. Mas não deve ser só isso. Vi os Broken Social Scene há dois anos e não me lembro de nada; acho que bocejei durante a maior parte do último do Devendra. Ok, vá, Sufjan Stevens foi qualquer coisa... já os Black Keys, adorei as músicas, como adoro o álbum, mas faltou qualquer coisa.

Neste último a sala era assim uma cena ao estilo Pavilhão Atlântico, e fiquei mega-longe e não vi absolutamente nada. Acho que estou mal habituada - aqui as melhores salas são pequenas, e normalmente é super fácil ficar na primeiras filas, e conseguir ver o que é que os músicos têm calçado, e quem é que está a suar mais, e apanhar com uns perdigotos. Isto porque os   dinamarqueses não curtem estar assim muito perto uns dos outros e é relativamente fácil esgueirarmo-nos por entre a multidão até a uma distância razoável do palco. O problema é que razoável para mim agora inclui conseguir ver quantas setlists estão coladas no chão, e quando isso não acontece, volta e meia dou por mim a pensar "bom se calhar podia ver isto depois no youtube". Ainda por cima não é fácil, o pessoal aqui é só torres, para além disso gostam de usar chapéus da moda... e estar duas horas de saltos altos não é propriamente uma opção (já tentei).

Outras vezes é o público de cá.  Parece que querem fazer jus ao estereótipos e são frios. Que falta de entusiasmo! Naqueles momentos em que a banda tenta meter conversa e tal,  toma, silêncio embaraçoso. Uma ou outra gargalhada. A ocasional música pedida. Parece que o artista é que tem que se render à audiência e não o contrário. E mesmo naqueles concertos em que a banda não é de grandes conversas, sei lá, parece que não há aquela química, não há aquela faísca no ar. Eu cá acho que os músicos sentem isso - para audiências desinteressadas, dá menos vontade de dar tudo por tudo no palco, não é?

À custa disto, eu, que ando sempre em cima destas coisas, deixei esgotar, com plena consciência, Gossip (pela segunda vez), Beach House (já os vi 2 vezes), Animal Collective (idem), Bon Iver (uma vez e foi meh).

Felizmente, nem todos os concertos vivem disto.

Ontem à noite fui ver os Grizzly Bear, e todas estas nuvens se dissiparam. Sim, passei 90% do concerto em bicos de pés e de pescoço esticado, só para conseguir vislumbrar a cabeça do Ed (que os outros não primam pela estatura) e vá, do Dan, de vez em quando. Sim, houve carradas de silêncios incómodos, quando a banda tentava fazer uma ou outra piada e nem ai nem ui; mas eles deram a volta à situação e disseram que com eles nos backstage também era assim, passavam o tempo todo em silêncio a trocar olhares profundos. Houve pessoas a bater palmas antes de as músicas terem acabado (naquelas pausas brutais) mas não me chateou muito, e o pessoal ameaçou começar a acompanhar a Knife com palminhas ritmadas (heresia!), mas felizmente a voz do Ed entrou a tempo.

E depois houve um concerto fantástico - a acústica da Falconer Salen no seu melhor, umas lamparinas meio hallowenescas como decoração e jogos de luz, e todas as músicas das quais eu me tinha esquecido do quanto gostava, mais as do último álbum, que eu não sabia que conhecia, mas com muito mais força, baterias, ritmos, vozes e tudo aquilo a que tínhamos direito.

E pronto, a minha motivação para ir ver concertos está totalmente recuperada. Venham daí os Django Django, The xx, Andrew Bird e quiçá, mesmo Dirty Projectors, Grimes, Crystal Castles e Two Door Cinema Club.

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